sexta-feira, 18 de março de 2011

VALE A PENA SE EXPOR?

Antigamente as pessoas, principalmente as mulheres, possuíam o costume de redigir diários com os fatos marcantes do cotidiano. Umas eram fiéis, escrevendo todos os dias, mesmo que não houvesse grandes acontecimentos. Outras só relatavam as situações que se sobressaíam ao habitual. O importante era testemunhar, pela escrita, determinadas opiniões, sentimentos e apreensões. Também havia ali uma ampla partilha da vida, de modo que seria possível conhecer, panoramicamente, uma pessoa lendo a sequência de seus diários. Estes ficavam trancados e muito bem guardados. O sigilo se estendia das pessoas mais próximas até aos estranhos. O maior medo era que a intimidade fosse exposta pelo outro.

Nos diários estavam experiências pessoais e, sobretudo, íntimas. Na maior idade ou, então, quando os fatos se distanciavam da redação nascia a necessidade de recorrer à leitura do diário. Era possível constatar o amadurecimento ou os pontos nos quais a pessoa precisava melhorar. Havia uma linha muito próxima entre o reviver e o recorrigir-se, sempre que constatados os erros. Talvez, a escrita funcionasse como uma forma de purificar as situações do passado e, ao mesmo tempo, se autoconhecer.

Profissionais da área da psicologia enfatizam a importância da escrita no processo de amadurecimento humano. “As pessoas seriam muito mais nobres e melhores se, no final de cada dia, pudessem rever seu próprio comportamento e pesar o que fizeram de bom e de mau. Automaticamente tentariam melhorar a cada manhã, e depois de algum tempo, certamente realizariam muita coisa” (Anne Frank).

Hoje, a situação é bastante diferente. Se no passado havia a necessidade de preservar aquilo que era íntimo e pertencia à esfera do privado; na atualidade cresce o desejo da exposição exagerada. O surgimento da internet, sobretudo, das redes sociais, tem despertado uma nova forma de comunicação, cada vez mais rápida, livre e em alguns casos até mesmo inconsequente. Isso se deve ao fato de ainda não haver uma legislação específica para aquilo que é postado no mundo virtual. Algo que poderia fazer a internet ser mais comprometida com a dignidade humana, sem despertar preconceitos e garantindo a liberdade de expressão.

Enquanto uns utilizam a internet como ferramenta profissional e de conhecimento, outros a acessam com o objetivo de se exibirem sem limites. Há exageros na quantidade de horas que se passa em frente ao computador. Já existem até mesmo terapeutas que tratam de pessoas viciadas em internet. No mundo há de 50 a 100 milhões de internautas viciados.

Também é possível reconhecer que um número significante de pessoas, mais centradas, faz da internet um espaço de conversação e de entretenimento contínuo. Alguns chegam a utilizá-la como uma facilitadora de relacionamentos, de troca de experiências, de participação integrada, de debates intelectuais; criando, assim, novos espaços de sentimentos e também de ações pelo cultivo da espiritualidade.

Só no Brasil, as redes sociais contam uma das parcelas mais significativas de participantes no mundo. Dentre elas destacam-se o Orkut, com 26 milhões de pessoas; o Youtube, com 20 milhões; o Twitter, com 9,8 milhões; Facebook, com seus 9,6 milhões de membros; Formspring, com 4 milhões e Flickr, com 3,5 milhões. Outros números menores, mas não menos expressivos como é o caso do Sonico, com 2 milhões e MySpace 1,5 milhão. Eis um mundo farto, rodeado de interatividade e partilha de informações!

É necessário ter critérios para a exposição pessoal. Somos nós os maiores responsáveis pela imagem que transmitimos às pessoas. Uma palavra mal colocada pode gerar situações constrangedoras e, em alguns casos, demissões. Já existem recrutadores de serviços que pesquisam o que os pretendentes às vagas postam em seus perfis sociais. Dependendo do que é colocado, a contração é efetivada ou, nas piores consultas, o candidato é dispensado por não possuir o perfil que a empresa almeja. Fotos, interesses e comunidades são dados que podem contribuir ou denegrir com a imagem de alguém. Portanto, qualquer postagem deve ser bastante analisada, mediante o critério da responsabilidade e do cuidado de si. Caso contrário, os danos serão irreparáveis!

Outra observação necessária se refere ao tempo que os adolescentes passam em frente ao computador. É fundamental que os pais comecem a compreender as ferramentas da internet, inclusive para acompanharem seus filhos e coibirem determinadas circunstâncias, capaz de prejudicá-los no rendimento escolar e, sobretudo, na formação humana, moral e ética. Sem entrar em questão de valores há uma grande diferença em ter um computador com internet junto à família, na sala, por exemplo, ou tê-lo dentro do próprio quarto.

Por fim, vale ainda ressaltar o critério da privacidade: “palavra valorizada por muitos, desconhecida por outros. Tem gente que simplesmente não teme se expor. Para elas, existe um mundo ideal, onde a discrição não tem vez. A internet, esse mundo infinito, onde cada palavra também é eterna. Caiu na rede, é de todos. Quem usa, sabe. Ou deveria saber. A internet não perdoa. Registra tudo: fotos, mensagens, blogs… Os arquivos digitais são públicos e, atenção, permanentes. A internet não esquece” (Fonte: Bom dia Brasil).

A internet é uma facilitadora e como tal não deve ser sobrepor à vida do usuário. Ela precisa permanecer como ferramenta e não como detentora da vontade alheia, instrumentalizando pessoas e manipulando consciências. A internet significa o desejo de guardar em um único lugar todo o conhecimento da humanidade, para fazê-lo histórico e disponível sempre. Assim como acontecia na antiguidade, por meio da Biblioteca de Alexandria. Tenhamos consciência da nossa missão de cristãos e filhos do Pai Eterno, para fazer da internet um lugar de convivência, conhecimento e, principalmente, de evangelização!

Pe. Robson de Oliveira, C.Ss.R.
Missionário Redentorista, Reitor da Basílica de Trindade e Mestre em Teologia Moral pela Universidade do Vaticano.
Twitter: @padrerobson
Site: www.paieterno.com.br

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